COMO ENCONTRAR
JESUS NA ARIDEZ
I - O paradoxo da Sagrada Família
Uma bela metáfora oriental,
relatada pelo presbítero Hesíquio de Jerusalém (séc. V), narra que a Santíssima
Trindade estaria num verdadeiro impasse, por serem as três Pessoas totalmente iguais.
E seria preciso haver algum acontecimento pelo qual o Pai pudesse ser louvado
enquanto pai, o Filho ser inteiramente filho, e o Espírito Santo dar mais ainda
do que já havia dado. Nessa dificuldade, a solução teria surgido no momento em
que Nossa Senhora aceitou a encarnação do Verbo em seu virginal corpo,
tornando-Se, deste modo, o "complemento da Santíssima Trindade".1
Para a realização de tão grande
mistério, "Deus Pai transmitiu a Maria sua fecundidade, na medida em que a
podia receber uma simples criatura, para que Ela pudesse produzir o seu Filho e
todos os membros de seu Corpo Místico", afirma o grande São Luís Grignion
de Montfort.2 E o "Espírito Santo, que era estéril em Deus, isto é, não
produzia outra pessoa divina, tornou-Se fecundo em Maria. É com Ela, nEla e
dEla que Ele produziu sua obra prima, um Deus feito homem, e que produz todos
os dias, até o fim do mundo, os predestinados e os membros do corpo deste Chefe
adorável".3
Assim, o Filho Se teria feito
Homem não só para nos redimir, mas também para, com toda propriedade, poder
chamar de pai a Primeira Pessoa Divina. Pois faria isto de dentro da natureza
humana, inteiramente como filho e devedor, porque , como homem, deveria a Ele
sua existência e, portanto, teria obrigação de restituir-Lhe o que dEle
recebeu.
Eis o motivo pelo qual, segundo
Hesíquio, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade aniquilou- Se a Si mesma,
fazendo-Se semelhante aos homens (cf. Fl 2, 7), e operou, de dentro da natureza
humana, a nossa Redenção. Qual novo Adão no Paraíso Terrestre, "encontrou
sua liberdade em Se ver aprisionado no seio da Virgem Mãe".4
Quem é mais, manda menos
À primeira vista, a constituição
da Sagrada Família é um mistério. Pois nela quem tem mais autoridade é São
José, como patriarca e pai, com direito sobre a esposa e sobre o fruto de suas
puríssimas entranhas.
A esposa é Mãe de Deus, Mãe da
Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Sendo Mãe, tem Ela poder sobre um Deus
que Se encarnou em Seu seio virginal e Se fez seu filho.
Nosso Senhor Jesus Cristo, como
filho, deve obediência a esse pai adotivo, aceitando em tudo a orientação e a
formação dada por José; e também à sua Mãe, criatura Sua. Que imenso,
insondável e sublime paradoxo!
Assim, na ordem natural, José é o
chefe; Maria, a esposa e mãe; e Jesus, a criança. Porém, na ordem sobrenatural,
o Menino é o Criador e Redentor; Ela, a Medianeira de todas as graças, Rainha
do Céu e da Terra; e José, o Patriarca da Igreja. José, o que de si tem menos
poder, exerce a autoridade sobre Nossa Senhora, a qual tem a ciência infusa e a
plenitude da graça, e sobre o Menino, que é o Autor da graça.
Deus ama a hierarquia
Por que dispôs Deus essa inversão
de papéis?
Assim fez para nos dar uma grande
lição: Ele ama a hierarquia e deseja que a sociedade humana seja governada por
este princípio, do qual o próprio Verbo Encarnado quis dar exemplo.
Bem podemos imaginar, na pequena
Nazaré, a prestatividade, a sacralidade e a calma de Jesus, auxiliando José na
carpintaria: serrando madeira, pregando as peças de uma cadeira, quando
bastaria um simples ato de vontade Seu, para serem imediatamente produzidos,
sem necessidade sequer de matéria prima, os mais esplêndidos móveis, jamais
vistos na História.
Entretanto, afirma São Basílio,
"obedecendo desde sua infância a seus pais, Se submeteu Jesus humilde e
respeitosamente a todo trabalho braçal".5 Assim, logo que São José
mandasse - e com que veneração! - o Filho fazer um trabalho, Este Se punha a
executá-lo!
Pois agindo dessa maneira -
honrando o pai que estava na terra e aceitando, por exemplo, fazer um móvel de
acordo com as regras da natureza - dava Jesus mais glória a Deus Pai, que O
havia enviado. Afirma São Luís Grignion, a propósito de sua obediência a Nossa
Senhora: "Jesus Cristo deu mais glória a Deus submetendo-Se a Maria
durante trinta anos, do que se tivesse convertido toda a terra pela realização
dos mais estupendos milagres".6
Assim, temos dentro da própria
Sagrada Família um impressionante princípio de amor à hierarquia, porque, uma
vez que Jesus havia desejado nascer e viver numa família, Ele honrava pai e
mãe, mesmo sendo onipotente e o Criador de ambos.
Uma vida de aparência normal
Não devemos supor que na Sagrada
Família tudo era absolutamente místico, sobrenatural e pleno de consolações.
Do Menino Jesus não se pode dizer
que vivia de fé porque sua alma estava na visão beatífica. Entretanto, quis que
seu corpo tivesse o desenvolvimento normal de um ser humano. Assim, por
exemplo, não nasceu falando, embora pudesse falar todas as línguas do mundo.
Nossa Senhora e São José levavam
também uma vida inteiramente comum na aparência e, como todos os homens,
sofreram perplexidades e angústias. Disto nos dá um exemplo o Evangelho deste
domingo: "Teu pai e Eu estávamos, angustiados, à tua procura".
II - Verdadeiro Deus e verdadeiro
homem
A descrição de São Lucas é a mais
minuciosa apresentada pelos Evangelhos a respeito dos trinta anos de vida
oculta de Nosso Senhor, junto aos pais, o que leva a supor que o episódio lhe
tenha sido relatado pela própria Nossa Senhora.
A Sagrada Família cumpre o
preceito
41 "Os pais de Jesus iam
todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. 42 Quando Ele completou doze
anos, subiram para a festa, como de costume".
Três eram as festas - Páscoa,
Pentecostes e Tabernáculos - nas quais os varões judeus tinham o dever de
comparecer ao Templo.7 Tendo Jesus completado os doze anos, era obrigado também
a fazêlo, pois, como lembra Fillion, ao atingir essa idade todo jovem israelita
se tornava "‘filho do preceito' ou ‘filho da Lei', quer dizer, sujeito a
todas as prescrições da Lei mosaica, mesmo as mais onerosas, como o jejum e as
peregrinações ao Templo".8
De Nazaré a Jerusalém são vários
dias de viagem, feita em comitiva, em caravanas, com as estradas apinhadas
pelos que iam cumprir o preceito nessas datas. Era costume os peregrinos
passarem uma semana em Jerusalém. Assim, segundo descrições feitas por autores
da época, como Flávio Josefo, a cidade se tornava intransitável, superlotada de
gente por todos os cantos.9
Dirigiu-Se Jesus à Casa de Deus
para prestar culto ao Pai. Que magnífica manifestação de amor à hierarquia, que
sublime relacionamento entre as Pessoas da Santíssima Trindade! Quanta alegria
teria sentido o Filho do Homem ao cumprir esse preceito da Lei mosaica, por
ocasião da festa da Páscoa! E vendo o cordeiro, símbolo de Si mesmo, sendo
oferecido ao Pai no Templo, deve ter considerado como, ao redimir o gênero
humano pelo sacrifício cruento na Cruz, Ele tornaria realidade essa imolação
simbólica.
Muito provavelmente caminhou por
Jerusalém e fitou com olhos humanos os lugares nos quais Ele iria padecer, e
teve um arroubo de amor semelhante àquele "desejei ardentemente comer esta
Páscoa convosco" (Lc 22, 15) que mais tarde manifestaria na Santa Ceia. E
Nossa Senhora não O terá acompanhado nesse percurso? Terão discorrido sobre a
Paixão? Ignorados pelos homens, eram, contudo, espetáculo para os Anjos do Céu.
Jesus não lhes deu nenhuma explicação
43 "Passados os dias da
Páscoa, começaram a viagem de volta, mas o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem
que seus pais o notassem".
Costumavam os judeus, durante
essas viagens, formar duas comitivas, uma de mulheres e outra de homens, e as
crianças caminhavam ora com o pai, ora com a mãe. E à noite, pai, mãe e filhos
se juntavam para o jantar e algum tempo de convívio antes de cada qual ir
descansar.
Assim deve ter sido a vinda para
Jerusalém e seria também a viagem de retorno, com a inevitável confusão própria
à partida de uma caravana que sai de uma cidade superlotada. Isso explica o
fato de que somente no final do primeiro dia, ao se encontrar com São José,
Nossa Senhora deu-Se conta do desaparecimento do Menino. Começaram, então,
aflitos, a buscá-Lo entre os parentes e conhecidos. Em vão!
Aflição de Maria e José
44 "Pensando que Ele
estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois começaram a procurá-
Lo entre os parentes e conhecidos. 45 Não O tendo encontrado, voltaram para
Jerusalém à sua procura".
Podemos bem calcular a grande dor
de Maria e José, atônitos diante desse fato, para o qual não encontravam
explicação.
Sabiam que o Messias deveria
ensinar toda a Sua doutrina e depois seria condenado à morte. Isto os deixava
receosos, como afirma a Glosa, de que "aquilo que Herodes tentara levar a
cabo em sua primeira infância, agora, encontrando uma ocasião oportuna, o
fizessem outros, matando-O nessa idade".10 Procuravam-No, então, pelo
caminho - com que angústia! -, temendo achá-Lo morto.
Ao sofrimento da dúvida sobre a
causa do desaparecimento de Jesus, somava-se o da incerteza sobre a ocasião.
Como fora acontecer agora? Transida de dor, Nossa Senhora certamente Se
lembrava da profecia de Simeão: "Uma espada transpassará a tua alma"
(Lc 2, 35).
Preocupação, aflição e angústia,
sim, mas numa superior paz de alma. Maria Santíssima talvez Se poria o problema
de ser Ela a culpada pelo acontecido, por alguma falta de amor a Deus. A
separação do Seu adorável Filho seria, nesse caso, uma divina repreensão. Daí
estar Ela na aflição das aflições e sentir no coração a espada de dor! Ela e
José talvez julgassem não terem sido dignos da guarda daquele Tesouro, de não
terem correspondido à missão que receberam. E isso os deixava em grande
desolação.
Nosso Senhor é ávido por dar
testemunho
46 "Três dias depois, O
encontraram no Templo. Estava sentado no meio dos mestres, escutando e fazendo
perguntas. 47 Todos os que ouviam o Menino estavam maravilhados com sua
inteligência e respostas".
Constatada a perda de Jesus,
Nossa Senhora e São José tiveram de aguardar até o amanhecer para empreender a
viagem de volta. Quando chegaram a Jerusalém, anoitecera já novamente; e,
assim, só no terceiro dia puderam ir ao Templo. Bem sabia Ela que era esse o
lugar mais provável onde achar o Filho.
Quando afinal O encontraram, a
Virgem Mãe e São José, absortos pelo sofrimento, nem se deram conta da
admiração causada pelo Menino Jesus aos doutores - "maravilhados com sua
inteligência e respostas" -, como ressalta o grande exegeta Lagrange:
"A aprovação dos doutores seria de molde a lisonjear os pais, e sobretudo
teria dado ocasião à doce complacência de uma mãe; mas Maria estava assumida
pela dor e tomada de surpresa".11
Diante dos mestres da Lei, o
Menino Jesus estava dando testemunho de Sua missão, dezoito anos antes de
iniciar Sua vida pública, conforme comenta São Beda: "Para provar que era
Deus, respondia-lhes de uma maneira sublime quando O interrogavam".12
Agindo assim, estava ajudando aquelas pessoas a se aperceberem de que chegara a
hora do Messias e da libertação do povo judeu. Libertação, não do domínio
romano, mas espiritual, em ordem à salvação eterna: as portas do Céu iriam ser
abertas!
Maria pergunta com admiração
48 "Ao vê-Lo, seus pais
ficaram muito admirados e sua Mãe Lhe disse: ‘Meu filho, por que agiste assim
conosco? Olha que teu pai e Eu estávamos, angustiados, à tua procura'".
A admiração de que nos fala este
versículo pode ser entendida em dois sentidos. Primeiro no sentido explicitado
por São Tomás de Aquino: estavam eles, em meio aos efeitos, à procura da causa,
da razão.13 Segundo, ficaram admirados ao encontrar o Menino cumprindo Sua
missão em tão tenra idade e presenciar a manifestação que Ele dava de Si mesmo.
Maria e José dão-nos aqui exemplo
de como devemos nos comportar quando a graça sensível se afastar de nós. Antes
de tudo, evitar qualquer atitude de revolta; se aconteceu, foi porque Deus
quis. São os percalços da vida, os dramas, as dificuldades que a Providência
permite para unir-nos mais a Ela. Aceitemos tudo com o mesmo estado de espírito
dos pais de Jesus. E quando revirmos Nosso Senhor, teremos também admiração.
Na pergunta feita por Nossa
Senhora, não se nota uma manifestação de queixa. Com sua retíssima consciência,
Ela demonstra aflição e perplexidade, desejando uma explicação para, assim,
melhor servir a Deus. Essa deve ser também nossa atitude, resignada e amorosa,
face aos problemas que se nos deparam ao longo da vida.
Resposta segundo a natureza
divina
49 "Jesus respondeu: ‘Por
que Me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?'".
Em sua pergunta, na qual
transparece bem a preocupação de mãe em relação ao filho, a Virgem Maria toma
em consideração a natureza humana de Jesus. E Ele, respondendo por meio de
outra pergunta chama a atenção para a Sua natureza divina.
Por essa resposta - a qual,
segundo Fillion, constituía "o programa de todo o seu ministério" 14
-, podemos conjecturar ter o Menino Jesus instruído Nossa Senhora a respeito de
como Ele deveria cumprir a vontade do Pai. E de como esse chamado divino
superava qualquer laço de sangue. Ele quis dizer a seus pais terrenos que Sua
missão divina estava acima dos vínculos familiares.
Mas, com isso, estaria Ele
reprovando Maria e José porque se colocaram como seus pais? São Beda faz um
inspirado comentário: "Não os repreende porque O buscam como filho, mas os
faz levantar os olhos da alma para verem o que Ele deve Àquele de quem é Filho
eterno".15 Jesus Cristo tinha uma missão a cumprir e queria que seus pais
terrenos compreendessem que tudo devia se subordinar ao Pai Celeste.
O exemplo de Maria diante do não
entender
50 "Eles, porém, não
compreenderam as palavras que lhes dissera".
Por que Nossa Senhora e São José
não entenderam? Deus não lhes deu luzes para isso naquele momento, a fim de que
pudessem ter maior mérito, compreendendo só mais tarde as razões do comportamento
do Menino Jesus.
Maria não entendeu as palavras de
seu Filho, mas, como se vê no versículo seguinte, conservava no seu coração
"todas essas coisas", com amor, sabendo que havia uma lição por do
desse episódio.
Essa deve ser nossa atitude em
relação a tudo quanto nos transcende e que porventura não consigamos entender
em nossa vida espiritual: com paz e confiança, guardar os acontecimentos no
coração e refletir sobre eles ao longo do tempo, lembrando- nos da promessa de
Nosso Senhor: "O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai vos enviará em meu
nome, vos ensinará tudo e vos lembrará tudo o que vos tenho dito" (Jo 14,
26). Mais cedo ou mais tarde, o Espírito Santo nos fará compreender, na medida
que isso for útil para nossa santificação e o cumprimento de nossa missão.
Neste episódio, ensina-nos também
o Divino Mestre que, por vezes, até nossos parentes podem não entender alguma
atitude nossa, de firme decisão de cumprir um dever moral ou religioso.
Portanto, se isso acontecer, não nos surpreendamos.
O imenso valor do recolhimento
51 "Jesus desceu então com
seus pais para Nazaré, e era-lhes obediente. Sua mãe, porém, conservava no
coração todas essas coisas".
Visando provavelmente evitar a
interpretação errônea de que, para obedecer ao Pai Eterno, é preciso desobedecer
aos pais terrenos, São Lucas, com muita delicadeza, lembra logo a seguir que
Nosso Senhor passou o resto da vida submisso a Maria e José. Pois, como afirma
São Beda: "O que haveria de fazer o Mestre da virtude, se não cumprir esse
dever de piedade? O que haveria de fazer entre nós senão aquilo mesmo que
desejava que fizéssemos?".16
Portanto, Ele aceitou que O
levassem novamente para Nazaré e continuou a ser-lhes obediente até o início de
Sua vida pública, quase duas décadas depois.
O que significaria esse longo
período de vida oculta? Bem pode exprimir ele o imenso valor do recolhimento.
Jesus, evidentemente, já estava preparado para cumprir a vontade do Pai.
Entretanto, depois de afirmar que veio cumprir essa vontade, Ele segue Nossa
Senhora e São José, e fica mais dezoito anos na vida oculta e recolhida.
Não esqueçamos, também nós, que o
recolhimento, a contemplação e o isolamento são excelentes meios de nos
prepararmos para executar bem nossas ações. Nunca houve uma comunidade
contemplativa excelsa como a de Nazaré: Jesus, Maria e José! Impossível
imaginar algo superior. É por isso que, como lembra o grande teólogo padre
Antonio Royo Marín, "alguns Santos Padres se comprazem em dizer que a
principal ocupação de Jesus em Nazaré foi a doce tarefa de santificar cada vez
mais sua queridíssima Mãe, Maria, e seu pai adotivo, São José. Nada mais
sublime, e mais lógico e natural".17
Crescimento em sabedoria,
estatura e graça
52 "E Jesus crescia em
sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e diante dos homens".
Santo Agostinho, São Tomás e a
generalidade dos teólogos afirmam que Jesus possuía em grau supremo, desde o
primeiro instante de sua concepção, a graça, a sabedoria e a santidade.18 E não
só as possuía, mas era em substância a Graça, a Sabedoria e a própria
Santidade.
No entanto, Ele crescia
fisicamente, de ano em ano, tomando configuração de adulto, "mas sem
exceder exteriormente as leis gerais do desenvolvimento humano", sublinha
Fillion.19 De acordo com a idade, ia Ele manifestando mais a Graça e a
Sabedoria. Não Se tornava maior em substância, mas sim em manifestação. Isso,
segundo o Doutor Angélico, porque "à medida que avançava em idade, fazia
obras mais perfeitas para demonstrar que era verdadeiro homem, tanto no
referente a Deus como no tocante aos homens".20
III - Oração e doutrina
Que aplicação tem esta passagem
do Evangelho para nossa vida espiritual?
Há momentos de nossa existência
nos quais temos a sensação de ter "perdido o Menino Jesus", isto é,
com ou sem culpa nossa, a consolação espiritual desaparece e nos sentimos
desamparados. O que fazer quando percebemos que estamos sem graças sensíveis,
sem aquilo que nos dava ânimo e sustentação para praticar a virtude?
Esta passagem do Evangelho
ensina-nos a imitar Maria e José: ir atrás do Menino Jesus, isto é, pôr-se à
procura da graça sensível, quando ela se retirar. Quando estivermos aflitos, na
aridez, devemos procurar Jesus no Santíssimo Sacramento. Não há nada,
absolutamente nada do necessário para nossa santificação que, se pedirmos a
Jesus Eucarístico, não acabemos por obter.
Contudo, não nos esqueçamos de
que, no Templo, Nosso Senhor estava entre os mestres da Lei, o que bem pode
significar a importância da doutrina para nos sustentar na hora da provação.
Daí decorre para nós a necessidade de uma boa e sólida formação doutrinária.
Como quem vai fazer uma longa
viagem providencia com antecedência documentos, roupas apropriadas e tudo o
mais, assim precisamos fazer nós: rezar muito e conhecer bem a doutrina, a fim
de estarmos preparados para atravessar os períodos de aridez. Se tivermos os
princípios bem vincados na alma, quando bater o vento da provação, as folhas
estarão firmes na árvore da Fé.
Por Monsenhor João Clá Dias, E.P.
Por Monsenhor João Clá Dias, E.P.
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